Diga-me com quem andas e te direi quem és (ou O mito do líder que leva as pessoas onde elas não quer
Minha mãe sempre adorou dizer a frase "Diga-me com quem andas e te direi quem és", para tentar afastar os filhos das, na opinião dela, más companhias. Eu, como sempre, a ouvia e ouço com respeito, mas desde sempre fiquei com a impressão de que esta estória de más companhias não existe. Sempre achei mais adequada a frase "Cada macaco no seu galho" pois, para mim, o ser humano procura, seja em sua vida pessoal ou no seu trabalho, os seus iguais, e não os diferentes.
Com base nesta minha crença, fiquei desde cedo intrigado com o exemplo de líderes que, supostamente, haviam levado milhares e milhões de seguidores para o "mal caminho". Como isso foi e é possível isso? Como uma pessoa como Adolf Hitler conseguiu liderar um país inteiro para o genocídio e, no final das contas, um quase suicídio?
Li bastante sobre o assunto e achei em alguns lugares explicações plausíveis (quem quiser ler mais sobre o o caso da Alemanha pré-guerra, recomendo Willian Shirer - The Rise and Fall of the Third Reich). Em geral, a conclusão é a mesma e bastante incômoda, no caso: Hitler não levou a maioria do povo alemão a fazer algo que já não quisesse fazer! O povo alemão, naquela época, era levado desde o jardim de infância a acreditar que o povo alemão era superior aos outros povos, era destinado a liderar o mundo e o sofrimento pelo qual estavam passando, muito em decorrência da primeira guerra, era culpa dos outros, no caso judeus, homossexuais, ciganos, etc. Daí, foi só empunhar a bandeira e esperar filas se formarem atrás dele.
Por isso encaro com bastante ceticismo estórias de líderes empresariais que revolucionaram empresas. Os mais bem sucedidos parecem ser aqueles que construíram impérios a sua cara e semelhança, não os que tentaram fazer com que empresas já constituídas o seguissem para novos caminhos.
Um líder que não se encaixa na cultura corporativa de uma empresa tende a enfrentar diversas dificuldades, mas a principal delas é a de que os colaboradores da empresa sempre tenderão a seguir voluntariamente aqueles que levantem bandeiras nas quais eles já acreditam. Se não acreditam na bandeira, somente seguirão se forem obrigados. Ficam três alternativas: troca-se o líder, troca-se todos os colaboradores ou o líder precisa convencer os colaboradores a seguir sua bandeira. Boa sorte para ele!
Moral da história? Aparentemente os headhunters deveriam se preocupar mais em analisar a cultura corporativa da empresa que estão auxiliando e das empresas nas quais o candidato já trabalhou, para maximizarem a compatibilidade e a possibilidade de sucesso. Na maior parte das vezes, isso é muito mais importante do que experiências anteriores na função ou no setor!
PS 1: Esta crença, de que as pessoas são moldadas, para o bem e para o mal, pela cultura na qual foram criadas já tem até um nome: Culturismo. É a versão moderna do racismo, só que ao invés de acreditar que as virtudes e defeitos vêm dos genes acredita-se que vêm da cultura. Por exemplo: brasileiros tendem a parecer com brasileiros, independente da cor, gênero, religião, etc.
PS 2: Ao contrário do que minha mãe sempre disse, esta frase não está na bíblia. Aparentemente, o mais parecido que pode ser encontrado lá é "Quem anda com os sábios será sábio; mas o companheiro dos tolos sofre aflição" - Provérbios 13:20.