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Inteligência 3.0 e sua aplicação na vida profissional


Quando criança parecia fácil saber quando algum(a) colega era mais ou menos inteligente. Bastava observar a facilidade com que ele lidava com problemas complexos na escola. Eram os famosos Caxiões, Caxias, CDFs e outros nomes (descobri apenas recentemente que nenhum destes apelidos existe mais, pois citei vários deles e minha filha acho que eu estava falando grego. Hoje só existem os Nerds). Esta inteligência é aquela utilizada quando você está fazendo algo sozinho, e na escola isso é, em geral, o que mais se faz. Vamos chamar este tipo de Inteligência 1.0.

Minha entrada na vida profissional coincidiu mais ou menos com a popularização de um outro tipo de inteligência: a inteligência emocional. Esta é comumente definida como a capacidade de entender e lidar com os próprios sentimentos e os dos outros. Em ambiente profissionais, é um tipo de inteligência tão importante quanto o primeiro, e permite que você conviva com sucesso e cresça com base nos relacionamentos profissionais que você criará e manterá com seus pares, chefes e colaboradores. Vamos chamar este tipo de Inteligência 2.0.

Mas é claro para todos como o mundo está mudando. O número de pessoas com as quais nos relacionamos está crescendo exponencialmente e as formas com que nos relacionamos com estas pessoas estão mudando também. Nos dias de hoje, seja através de interações curtas em redes sociais como comentários e curtidas, seja através da produção de conteúdo na web (como um artigo no LinkedIn, por exemplo), estamos nos relacionando o tempo todo com pessoas que conhecemos pouco ou quase nada, e não possuímos nenhuma informação sobre as emoções ou necessidades destas pessoas para que possamos aplicar as inteligências 1.0 ou 2.0 naquele caso. Então, o que fazer?

Antes de procurar uma resposta, precisamos lembrar que a neurociência já elucidou que nosso cérebro molda o mundo à nossa volta da forma que ele bem entende, e que muitas vezes o mundo que enxergamos possui pouca relação com o mundo real. Está duvidando? Então lembre-se, só para ficar no básico, que nosso olho enxerga de cabeça para baixo, e que fica a cargo do nosso cérebro inverter a imagem. A cor dos objetos também é um conceito criado por nosso cérebro para facilitar a tarefa de distinguir, por exemplo, um leão de uma árvore mesmo a uma certa distância e, desta forma, sobreviver para mandar uma foto do passeio via celular.

O número de informações que nossos cinco sentidos enviam ao cérebro a todo momento é muito maior do que conseguimos conscientemente processar. Então, nosso subconsciente criou um sofisticado mecanismo de classificação, filtragem e foco para que consigamos navegar com segurança no bombardeio de sinais sensoriais que recebemos em nossa vida cotidiana. Assim, o subconsciente de cada um cria uma visão de mundo única, particular, que pode ser (e muito provavelmente será) diferente da minha e da sua. Esta visão de mundo fará, em última análise, que esta pessoa possa ver, assimilar e interpretar um mesmo fato de forma completamente diferente da nossa. Basta ver, sem querer polemizar, como as diferentes interpretações dos fatos políticos recentes no Brasil criaram duas verdades diametralmente opostas, divisão esta cujas consequências ainda estamos por presenciar em sua plenitude.

Então, como podemos aplicar este conhecimento sobre as diferentes visões de um mesmo fato em nossas relações pessoais e, principalmente, profissionais? Como podemos nos relacionar com uma pessoa que nunca vimos pessoalmente, com a qual nunca conversamos e cujo perfil na rede social X nem mesmo tem foto?

Entra em cena, então, a Inteligência 3.0. Ela se inicia com o reconhecimento que não existe a verdade. Existem apenas um conjunto (esperançosamente finito) de visões possíveis sobre um mesmo fato, e que cada um criará em seu cérebro uma verdade pessoal adaptada à sua visão de mundo. Partindo do reconhecimento que não existe a verdade, mas somente opiniões, esta nova forma de inteligência é definida pela capacidade de se libertar o máximo possível da sua visão particular do mundo e de tentar enxergar as inúmeras possibilidades que os seus amigos, parentes, colegas de trabalho, clientes e fornecedores podem ter de visão de mundo. É um conceito que vai além da empatia, pois engloba, além dos sentimentos, modelos mentais que foram criados por nossos genes, em nossas infâncias, em nossos colégios, faculdades e passatempos.

A capacidade de, em cada situação, enxergarmos com os olhos de todos os nossos possíveis interlocutores vai permitir que possamos buscar soluções de compromisso em que os principais pontos de cada uma das possíveis visões estão sendo atendidas no maior grau possível, e não apenas buscarmos impor a nossa verdade, mesmo que tenhamos a ilusão de que possamos estar corretos. Muitas vezes, somente fazendo uso da Inteligência 3.0 seremos capazes de evitar desentendimentos que levarão ao estremecimento ou rompimento de nossos relacionamentos, sejam eles pessoais ou profissionais (se é que existe mesmo o conceito de relacionamento profissional, e não se trata apenas de mais uma forma de relacionamento pessoal em que se usa gravata).

Não é, de forma nenhuma, uma tarefa fácil. Mas talvez este tipo de inteligência seja a chave para o sucesso no novo milênio. É esperar para ver.

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